quarta-feira, 23 de abril de 2014

Atividade na (UEMA) tirado do livro de paulo freire "Essa Escola Chamada Vida"






As experiências de que participei na adolescência, com meninos camponeses, com meninos urbanos, filhos de operários, com meninos que moravam em córregos, morros, numa época em que vivíamos um pouco longe do Recife. A experiência com eles foi me fazendo habituar com uma forma diferente de pensar e  de se expressar, que era exatamente a sintaxe popular. (pag;7)
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Eu chamo de “politicidade da educação”, as coisas começaram a mudar. No momento em que comecei, através da prática, a ter práticas que reforçavam para os outros  uma opção pelos interesses dos trabalhadores, ai comecei a ser visto pelos interesses dos trabalhadores, ai comecei a ser visto como  um potencial subversivo. (pag; 13)
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Era tentando compreender a linguagem popular e descobrir as palavras mais carregadas  de emoção, mais carregadas de sensibilidade, mais ligada a problemática da área, que a gente elaborava o programa. O ideal mais adiante fiquei mais radical. O ideal era quando você podia fazer isso  com o próprio povo. Era você ter representantes do povo, dos alfabetizados em áreas populares, ao lado do educador, pesquisando a sua própria palavra . (pag. 19)
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Nos abre a porta porque somos cristãos. Em princípio, o Cristão era anticomunista e antimarxista. O marxismo era propriedade privada  dos comunistas, e a leitura e na Igreja se fazia do marxismo não correspondia as idéias de  Marx. Predominava a leitura de um outro jesuíta, o padre francês Jean Calves, que escreveu uma robusta obra chamada  O Pensamento de Karl Marx, que é um texto  apologético que diz: Marx pensa isso, porém isso é equivocado, errado, porque não condiz com a doutrina cristã. Enfim, só a partir de todo aquele processo de fermentação intelectual que se criou no Brasil nos anos 50 e 60, em busca de uma alternativa. Enfim, só a partir de todo aquele processo de fermentação  intelectual que se criou no Brasil nos anos 50 e 60, em busca de uma alternativa ao processo de desenvolvimento brasileiro, é que os cristãos começaram a superar seu idealismo congênito e a descobrir  a visão  dialética articulada a vivencia da fé. No inicio dos anos 60, chegamos a teoria da dependência, influenciados pela obra  de Gunnar Myrdal, que situa o subdesenvolvimento dos países do terceiro mundo em relação ao progressivo desenvolvimento do primeiro mundo. Tudo isso vai suscitando uma postura crítica que lança a pergunta: Quais são as possibilidades reais do desenvolvimento dentro dessa economia capitalista fortemente dependente e periférica?”. Então surge a questão de que “não será possível dentro do sistema”. E ai vem o marxismo com uma explicação mais científica   e mais consistente de como  funcionam as relações de produção dentro do sistema capitalista, problema do conceito de classes. Tudo isso vai-se abrindo para nós. Houve uma fermentação  e uma aproximação a algumas categorias –base do marxismo já no trabalho  do Padre Vaz.
Bem  não vamos entrar na questão  da filosofia, que é bem mais complexa. O importante é situar isso: que, nesse momento, surge neste Pais uma nova postura epistemológica, quer dizer, uma nova maneira de pensar o Brasil, de encarar o Brasil. E sobretudo uma tentativa de aproximação cultural do universo popular. E essa tentativa se refletiu em todo o processo de criação artística. Todo esse pessoal do cinema novo, da Bossa Nova surge ai. Assim como tem o MCP no Recife, havia os Centros de Cultura Popular    da UNE no Brasil inteiro, que suscitavam  manifestações de arte com um  conteúdo prós causas populares. Hoje a gente tem uma visão mais crítica, sabe que ainda não era o  próprio povo manifestando a sua criação artística, ainda éramos nós  universitários, intelectuais, falando  em nome do povo. Por exemplo, a obra de Oduvaldo  Vianna  as primeiras peças do Guarnieri refletem bem isso. Nós interpretávamos  a realidade a partir dos interesses da classe popular.    (pag; 28)
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O professor é aquele que sabe, mas também a idéia  de que o aluno é aquele que não sabe e, para saber depende do professor se ele se dispuser a dar uma migalha  de seu saber aos alunos...mesmo dando migalhas, a postura é de quem está convencido de que os alunos jamais vão saber como ele sabe e por isso precisarão sempre das luzes daquela inteligência suprema.
Este é u dos problemas da educação popular hoje . Em nome da educação popular, a muita educação “bancaria” por ai que se “justifica” pela eficácia, pela pressa porque não dá tempo de se aplicar a metodologia correta ...Então o assessor se apresenta  perante o grupo popular e faz suas palestras, dá seu show intelectual, numa de querer “fazer a velha negativa tradição de que os trabalhadores, para saberem analisar a conjuntura ou conhecer o que são modos de produção, devem continuar  dependendo de “quem  sabe”  , do pequeno burguês que passou pela faculdade. Nesse ritmo, de assessor intelectual o sujeito acaba dando diretrizes política, impedindo os trabalhadores de serem protagonistas do processo histórico... (pag 31)

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Vejo  como uma possibilidade, como um desafio, conseguir encontrar essas chaves de expressão do discurso popular, e sabe utilizá-las na transmissão de noções  e conhecimento  tidos como extremamente clássicos e acadêmicos e até como inacessíveis. Tive uma experiência na Nicarágua muito interessante. Consegui, com oitenta  camponeses, durante um dia inteiro, fazer a leitura  do texto da “introdução a crítica da economia política”, do Marx. É onde ele faz um resumo prévio  de O capital Ali estão bem condensadas as  principais noções do marxismo. E um texto considerado dificílimo nas faculdades. Pois foi possível num ia de trabalho, fazer oitenta camponeses nicaragüenses lerem e entenderem esse texto.
Como? Vou contar a receita pedagógica; primeiro, se leu o texto em grupo. E cada um tentou dizer o que entendeu. Percebeu –se que entenderam muito pouco. Nem sequer as palavras eram bem compreendidas. De qualquer maneira, foi um primeiro contato de visualização e audição do texto. E esse é um dado também importante no saber popular.  
Ele é um saber experimental. As pessoas conhecem o que experimentam, e não o que escutam. Como todo processo de conhecimento  mais intelectual  tem que passar por ai.
Depois dessa primeira manipulação de texto, fiz uma leitura pausada, que chamo “leitura Versicular ”, que é como se cada frase fosse um versículo, e transformei cada frase numa história. Em torno de cada conceito do texto do Marx, montei uma história para explicá-lo.
Depois devolvi os grupos e a leitura ficou mais clara  ai fizemos o teatro. Copiamos em Xerox o dinheiro e dividimos: vocês são os banqueiros; vocês, os industriais; vocês, os latifundiários ; vocês os empregados. Vocês os desempregados; vocês, a polícia; você o juiz...
E fizemos a dramatização do texto, mostrando como se dão  as elações de produção. Os caras que tinham mais dinheiro,no inicio e que queriam continuar comprando, iam ao banco, pegavam um empréstimo e compravam. Por sua vez, os pequenos comerciantes também precisavam comprar dos grandes e iam ao banco, e ia no fim, da brincadeira, o banco estava muito rico, os assalariados muito pobres, os pequenos pedindo falência ...
Após essa brincadeira, esse jogo, voltamos a ler o texto. Estava claramente inteligível. Não havia mais problemas.     

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